"Sim, mas não
esquecer que para escrever não-importa-o-quê o meu material básico é palavra.
Assim é que esta história será feita de palavras que se agrupam em frases e
destas se evola um sentido secreto que ultrapassa palavras e frases. [...] Parece
que estou mudando o modo de escrever. Mas acontece que só escrevo o que quero,
não sou um profissional – e preciso falar dessa nordestina senão sufoco."¹
Que não podemos julgar o que se passa dentro do outro é uma
consciência fraca, mas pelo menos já pertence ao plano da consciência. Mas e
quanto ao falar sobre o "outro"
? Alguns laços de sangue ou emocionais, parecem nos dar a liberdade de agir
como se pudéssemos entrar e opinar no outro. Essa era da individualidade -
saudável na minha opinião - é bombardeada pela intromição - a arte de se
intrometer na vida alheia. Por isso, digo e repito: viver no meu "eu" esta cada vez mais
suficiente e o clichê do amo próprio cada
vez mais importante; para uma tomada tranquila de consciência. A dependência do
quê ou de quem promove repugnância a cada instante em que vejo uma violação da
privacidade acontecendo - comigo ou não. A liberdade sufoca quando ela é
confundida ou erroneamente substituída por solidão, mas sim, eu quero o "ser livre" pra mim! Quero o "não me importar+noites bem
dormidas"! Acho justo explicar o porque não querer a solidão. Uma vez
li e ouvi o seguinte: "Amar os
outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der
amor e às vezes receber amor em troca."² Pois bem, não concordo que seja a única,
mas afirmo ser indispensável. A minha fé na liberdade é tão gritante ao ponto
de agoniar ao saber que não a tenho e piorar ao perceber que não possuo a
coragem necessária para ir a luta. E depois disso tudo exposto, a única conclusão
em que cheguei foi: sufoco se não escrever!
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¹ - Clarice Lispecotor, A hora da estrela.
² - Clarice Lispector, Descoberta do mundo.